A exposição "Dona Fulô e Outras Joias Negras" é uma celebração da resiliência, criatividade e força das mulheres negras no Brasil colonial. Realizada pelo Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e exibida no Museu de Arte Contemporânea da Bahia (MAC Bahia) entre 7 de novembro de 2024 e 30 de Março de 2025, a mostra ofereceu uma imersão na história das "Joias de Crioula" e das mulheres que as utilizaram como símbolos de liberdade e identidade cultural.
As joias de crioula: Símbolos de resistência e identidade
As "Joias de Crioula" são adornos elaborados em ouro e prata, frequentemente enriquecidos com pedras preciosas, usados por mulheres negras, tanto escravizadas quanto libertas, durante os séculos XVIII e XIX. Essas peças não eram meramente decorativas; representavam a afirmação de uma identidade cultural e a busca pela liberdade em uma sociedade marcada pela opressão racial. Ao adornarem-se com essas joias, as mulheres negras expressavam sua autoestima, preservavam suas raízes africanas e, em muitos casos, utilizavam-nas como forma de acumulação de riqueza para alcançar a alforria.
O ponto de partida para a criação da exposição foi a descoberta de uma fotografia de Florinda Anna do Nascimento, conhecida como Dona Fulô, da cidade de Cruz das Almas/BA, uma mulher negra adornada com diversas joias. O colecionador baiano Itamar Musse, ao adquirir uma significativa coleção de Joias de Crioula, reconheceu em uma das peças da foto uma pulseira idêntica à de sua coleção. Essa conexão o levou a aprofundar-se na história de Dona Fulô e de outras mulheres negras que, através do trabalho e da expressão cultural, conquistaram sua liberdade.
A exposição é dividida em três núcleos principais:
- As raras Florindas: Apresenta a coleção de Joias de Crioula pertencente a Itamar Musse, destacando peças que pertenceram a Dona Fulô. Essa seção enfatiza a sofisticação e o significado cultural desses adornos.
- Documentação Histórica: Exibe documentos, fotografias e registros que contextualizam a vida das mulheres negras no Brasil colonial, evidenciando suas estratégias de resistência e empreendedorismo.
- Arte Contemporânea: Reúne obras de 22 artistas baianos contemporâneos que dialogam com a temática da exposição, refletindo sobre a herança cultural afro-brasileira e as narrativas de resistência feminina
Um dos aspectos centrais da exposição é a valorização das "ganhadeiras", mulheres negras que, através do comércio de alimentos e outros produtos, acumulavam recursos para comprar sua alforria e a de seus familiares. Essas mulheres desempenharam um papel crucial na formação de uma economia paralela que desafiava as estruturas escravocratas, evidenciando sua agência e capacidade empreendedora.
A curadoria da exposição foi realizada por Carol Barreto, Eneida Sanches e Marília Panitz, profissionais renomadas que trouxeram uma perspectiva sensível e aprofundada sobre o tema. A mostra também contou com o apoio do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (IPAC) e da Secretaria Estadual da Cultura, reforçando a importância institucional do projeto.
A exposição "Dona Fulô e Outras Joias Negras" não apenas resgata uma parte essencial da história brasileira, mas também promove uma reflexão sobre as contribuições das mulheres negras para a formação da identidade cultural do país. Ao destacar a sofisticação das Joias de Crioula e as estratégias de resistência das ganhadeiras, a mostra evidencia a complexidade e a riqueza das narrativas afro-brasileiras.
É um marco na valorização da história e da cultura afro-brasileira. Ao trazer à tona narrativas de mulheres que, com inteligência e determinação, desafiaram as estruturas opressoras de sua época, a mostra inspira reflexões sobre o papel da cultura como ferramenta de resistência e afirmação identitária.
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